Hoje, véspera do dia dos pais convidei a escritora Regina Bucco para colaborar com blog:
A última vez que trocamos um olhar ele me chamou de Sílvia. Já não me reconhecia e eu senti uma pontada forte na alma. Não teria nem a chance de dizer o que ensaiei a vida inteira e não disse por covardia.
Nenhum gesto meu naquele hospital seria lembrado. Nada teria mais importância porque ele não perceberia.
Minha mãe tentava dar morangos picadinhos na sua boca. Estavam doces. Eu não sabia mais se ele sentia os sabores.
Tudo naquele dia de setembro ficou muito insignificante naquele Jaboticabal que sempre tive dificuldade para entender.
Me lembrei do dia que li Rilke e aquele contato tão dolorido com o pai . Vamos escrever uma carta.
Hoje correndo com minhas emoções guardadas em uma caixa de leite pasteurizado, vejo que não vivi a morte de meu pai. Ele foi embora e eu tentei de todas as formas prolongar a vida que não tinha mais condições de ficar ali, mera figuração.
Me lembro do vaso de orquídea que ele havia me dado uma semana antes de morrer, plantada por ele. Veio correndo até o carro: para a sua casa. E aqueles olhos verdes saltando da cara como vagalumes.
Adorava iluminar corações.
Ele insistia com as pessoas, achava que valia tentar, apostar. Com muita calma.
Ponderava as palavras como se desenhasse.
Tudo no seu tempo e no seu lugar.
Vinha atrás arrumando os estragos de todos.
Engraçado , não era oferecido.
Era incluído, necessário.
A sensibilidade chegava a doer de tão generosa, se espalhava em alegria por onde passava.
A tigela de morangos ficou no criado mudo.
Gostaria tanto de ter conhecido seu pai, Gina, tenho esse sentimento de forma recorrente, principalmente quando olho para foto dele.💖💖💖
Regina Bucco, minha irmã, consegue buscar como poucas pessoas, no fundo do coração sentimentos e lembranças fortes, que se tranformam em lágrimas, de saudades e amor, quando lembro do meu pai...