O roubo de almas

Os povos originários brasileiros, crêem que ao se deixar fotografar, a sua alma é capturada, ou seja

mesmo depois de sua morte, a alma se faz presente nos olhos de quem observa a fotografia e isso segundo sua cultura , não é bom, pois os mortos precisam ser esquecidos, afinal sua alma anseia liberdade, daí o fato de eles não permitirem serem fotografados.

A fotografia rouba ou não nossa alma? Será?

Comigo aconteceu que antes mesmo do obturador ser disparado, senti minha alma capturada, não pela fotografia, claro, mas por um comentário que alguém fez. Suas palavras se anteciparam e roubaram uma parte do meu ser, antes que o tempo do obturador da câmera o fizesse.

Era uma tarde de inverno típico brasileiro, com muito sol e um friozinho que só ameaçava acontecer, minha primeira vez em Ouro Preto e nossa primeira vez viajando juntos.

Vamos tirar uma foto? Ele começou a sugerir o local e quando eu fiz minha primeira pose, veio o comentário que não só roubou minha alma, como meu corpo também, , desde então não consegui me reconhecer nas fotos me sinto estranha e pouco atraente, pra falar a verdade, me sinto feia, muito feia, horrorosa, talvez tenha sido neste momento que a paixão pela fotografia se deslocou de frente para trás da câmera, anos mais tarde me tornei e torneei fotógrafa.

- Por que essas poses ridículas? Não seria mais legal se você simplesmente agisse naturalmente?

O argumento talvez fosse válido, porém como foi dito, foi ilicito, pra não dizer perverso. Tal como na historia de Robin Wood a motivação pode ser boa, mas a subtração de valores alheios é no mínimo condenável.

Voltando aos povos originários, penso na crença da fragilidade da alma, como assim? Qualquer um pode chegar e roubar sua essência? Lamento informar, mas pode sim, se você deixar. Os índios não deixam.

Tenho a prova do exato momento do roubo de minha alma.